sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O G500

Bem, ultimamente não tenho andado muito inclinado a escrever porque passo o tempo todo a pensar mais rápido do que consigo escrever. Mas aqui vai o mais recente assunto do qual consigo escrever, do qual tenho que escrever.



Mais uma vez a televisão faz das suas e põe-nos a pensar, desta vez com o exemplo da Grécia. País esse que tem sido muito comparado com Portugal em inúmeros aspectos da sua vida económica. Falta de competitividade, deficit elevado e, o aspecto que vou abordar neste meu novo post, o G500.
Ora, comecemos por perceber o que é o G500. O G500 não passa duma mera alcunha para uma geração dos 20 aos 30 anos, altamente qualificada com um ou mais cursos e mestrados universitários inclusive, e que trabalha pelo ordenado mínimo. Na Grécia, são o G700 pois lá o ordenado mínimo é na ordem dos 630€.



Actualmente em Portugal, está-se a testemunhar o mesmo, isto é, se considerarmos que estamos um pouco melhor que a Grécia, ou então que estamos "atrasados" neste caminho para a desgraça dos muito bem qualificados.
Em Portugal, já existem 60 mil licenciados no desemprego e não me venham com a treta da crise económica pois este problema já começava a ser óbvio demais antes dela surgir. Estamos a formar mais do que conseguimos absorver! É muito fácil entrar numa universidade, basta média de 9,5. Vê-se um esforço por parte do Governo em tentar arranjar saídas para estes profissionais com criação de estágios no sector privado e no público. Estágios não resolvem nada ou resolvem muito pouco. Raras são as pessoas que conseguem trabalho com um estágio justamente porque os patrões vêem estas oportunidades como oportunidades de baixarem custos (Aprendizes, praticantes e estagiários têm direito a auferir 80% do salário mínimo) e de terem mão de obra descartável. Pessoalmente tenho a experiência através dum colega meu que com curso de 5 anos feito e com mestrado inclusive, caiu na esparrela dum estágio de onde foi rapidamente descartado quando as coisas na empresa tremeram um pouco. Que futuro para ele? Nenhum. Zero mesmo. A opção que resta é fundar o seu próprio negócio mas como não tem fonte de rendimentos não lhe fornecem crédito. Não tem saída nem futuro. Um homem feito com 26 anos vive às custas dos pais porque a sociedade não encontra um lugar para ele aplicar os seus conhecimentos e capacidades adquiridas com sacrifício.
Nele vejo reflectido o meu próprio futuro que tento a todo o custo evitar demorando um pouco mais de tempo a completar o meu curso e adquirindo experiência profissional em vários campos do mercado de trabalho. Sempre pelo ordenado mínimo, pois claro!

Já que estamos a falar sobre ordenado mínimo, o primeiro ordenado mínimo em Portugal era da ordem dos 16,46€ (3300 escudos), que aplicando as taxas de inflação anuais até à data teríamos um ordenado mínimo na ordem dos 580€ e não um de 475€. Ora, vai uma diferença de 105€! Imaginemos o que seria se todas as pessoas que auferem o ordenado mínimo ganhassem mais 105€.
Saia mais dinheiro das contas dos ricos, logo o dinheiro não ficaria parado. Pelo menos a sua maioria visto que as pessoas poderiam poupar uma percentagem. Como ganho mais vou gastar mais. Se gasto mais vai haver uma maior procura no mercado a qual as empresas têm de satisfazer aumentando produção. Para aumentar produção, precisamos de pessoas logo aumentam-se empregos. Aumenta emprego, diminui os gastos com fundos de desemprego (bom para a Segurança Social, mais sustentável a longo prazo) e mais pessoas terão mais rendimentos para gastar. Actualmente as economias vivem do Consumo, logo seria de esperar uma politica de apoio ao rendimento mais forte e mais agressiva. Até porque isto aumenta as receitas do Estado, ajudando a controlar futuros deficits e a pagar dividas do Estado. Nunca ouviram vossos país dizer que no final dos anos 80, inícios de 90, o dinheiro rendia? Pois é meus amigos, nessa altura houve um grande "bum" no desenvolvimento de Portugal, do PIB e as taxas de desemprego bateram recordes positivos.

Taxa de Desemprego em Portugal

É certo que muitas empresas fechariam as portas com esse aumento, levando gente para o desemprego, mas isso é o mundo actual que temos de enorme competitividade. É quase uma selecção natural onde o mais forte prevalece. Neste caso não é o mais forte mas sim o mais rigoroso, o mais inovador e o que apresenta mais qualidade no seu sector. Os empregados não podem ser um instrumento fácil de diminuição de custos mas isso tem sido muito usado ultimamente. Tem-se apostado muito na responsabilidade social para tentar minimizar essa injustiça mas, a meu parecer, não fez grande mossa nas mentes dos empresários portugueses. Não há um sentido de lealdade nem de gratidão para com os empregados. Num mau momento deve-se olhar para o passado e pensar no lucro que este ou estes empregados me deram (eu como patrão) e aguentar pois o que tenho, em parte, devo-o a eles mas infelizmente isso não se vê em Portugal.

Sendo este um problema bastante complexo de abordar, mexendo com várias áreas da nossa sociedade, para se resolver tem de haver uma concertação de esforços por parte do Governo, das Universidades e do patronato. Este esforço implica uma mudança de mentalidade por parte dos patrões, uma mudança na mania que todos os Governos têm de legislar para caçar o voto, e por parte das Universidades tornando um pouco mais difícil o acesso ao ensino superior.

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